Desde a Babilônia até aos nossos dias, os jardins suspensos capturaram a imaginação pela sua capacidade de elevar a natureza acima do quotidiano. Nas cidades, onde o cimento e o vidro predominam, estas estruturas verdes tornam-se oásis inesperados entre tons cinzentos e avermelhados.

Um dos exemplos mais surpreendentes deste conceito renasceu no Reino Unido: o emblemático edifício de escritórios de Basingstoke, conhecido como os 'Jardins Suspensos de Basingstoke', localizado em Hampshire, foi completamente transformado para se tornar um símbolo de regeneração urbana, sustentabilidade e design que respeita a história.

Arquitetura brutalista com coração verde

Originalmente desenhado em 1973 pelo arquiteto Peter Foggo e pelo Grupo 2 da Arup Associates para a empresa papeleira Wiggins Teape, o edifício destacava-se pelo seu inovador sistema de terraços ajardinados. A sua estrutura em escadinha albergava seis níveis de escritórios coroados por jardins que, com o tempo, se tornaram na sua imagem de marca.

No entanto, após décadas de transformações e degradação, tanto o edifício como a sua paisagem verde tinham perdido parte do seu esplendor.

A reabilitação começou com uma operação de limpeza para revelar os elementos ocultos do edifício original. “Simplesmente ao retirar os falsos tetos, as divisórias e os acabamentos acumulados, ficaram a descoberto os tetos artesoados meticulosamente detalhados e a estrutura cruciforme de colunas”, explicam no estúdio.

Esta estratégia permitiu recuperar a essência brutalista do edifício e, além disso, possibilitou a sua reinterpretação com uma sensibilidade contemporânea.

A transformação incluiu também novas zonas comuns e serviços para responder às necessidades dos utilizadores atuais, como, por exemplo, um espaço de trabalho polivalente, cafetaria, ginásio, balneários e um armazém seguro para bicicletas. Além disso, foram atualizados todos os sistemas técnicos, incluindo a fachada cortina original, para melhorar a eficiência energética e preparar o edifício para um uso sustentável a longo prazo.

O renascer vegetal

Mas se há um aspeto que define a transformação deste projeto, é a recuperação dos seus famosos jardins suspensos. O estado de degradação era notório: a terra estava esgotada, tinham-se perdido espécies vegetais e árvores mortas e, inclusivamente, foram detetadas bactérias de legionela no sistema de água.

Perante este desafio, o projeto embarcou numa profunda investigação histórica, consultando os arquivos do designer de jardins original, James Russell, incluindo as suas “listas de plantação escritas à mão”, para compreender a intenção primordial da paisagem e poder ajustar-se o mais possível aos jardins originais.

Depois de substituir por completo o substrato, foram plantadas 86 novas árvores e mais de 22.500 espécies vegetais, selecionadas pela sua resistência à seca e pelo seu valor ecológico. “Em essência, as alterações deram prioridade a preservar a visão original de James Russell de uns jardins informais, elaborados, românticos, exuberantes e tumultuosos”, afirmam no estúdio.

O desenho paisagístico complementa-se com caminhos, zonas pavimentadas, espaços para sentar e uma nova fonte elevada que substitui o antigo lago. Para assegurar a sustentabilidade do sistema, foi incorporado um depósito de recolha de águas pluviais e um moderno sistema de rega gota a gota.

Embora os jardins ainda estejam em fase de crescimento, a equipa confia no seu impacto futuro: “a introdução de diversas espécies de árvores e plantas que ajudam os polinizadores e a fauna selvagem sugere benefícios promissores a longo prazo para a biodiversidade”.