Aumentar a oferta de casas no mercado é uma necessidade premente, e isso requer a construção de novas habitações e a reabilitação das que se encontram devolutas ou sem uso. A aceitação de que a tecnologia, especialmente a Inteligência Artificial (IA), se tornou uma parte integrante da mediação imobiliária é vital. Além disso, a elaboração de pactos de longa duração a nível governamental é essencial para garantir que as medidas adotadas se mantenham ao longo dos anos, evitando alterações legislativas frequentes.
A crise na habitação – ou a dificuldade de acesso à habitação – aponta para a imprescindibilidade de aumentar a oferta de casas. Contudo, é imperativo compreender que a construção das necessárias habitações não poderá ser feita da noite para o dia. Estas foram algumas das ideias apresentadas por oradores durante a 3ª edição da Convenção APEMIP Imocionate, que ocorreu no auditório da Fundação Champalimaud.
Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro, e Miguel Morgado, comentador, destacaram as causas subjacentes do problema habitacional. Segundo Portas, 'as causas do problema da habitação e da construção estão identificadas', mas as soluções não surgem rapidamente, e as intervenções do Estado, embora necessárias, acabam por prolongar o tempo de resposta às necessidades da população e das empresas.
“Cresci com a certeza de que Lisboa era a primeira cidade do país e a segunda era o Porto. Esse mundo já não existe. Acho possível que daqui a dez anos a primeira cidade seja Sintra e a segunda Gaia. Para Lisboa e Porto é difícil crescer, e para onde Lisboa podia crescer já cresceu.”
Paulo Portas
Portas fez um apelo para a necessidade urgente de aumentar a oferta de casas, tanto no setor privado como no público, enfatizando a importância do crescimento do parque habitacional municipal. Ele salienta que atualmente constrói-se menos do que há 15 ou 20 anos, com números que chegam a ser alarmantes.
Números mostram a urgência de construir mais casas
Os números apresentados por Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), são claros:
- Na última década, construíram-se apenas 15.000 habitações por ano;
- O Estado, nos últimos 20 anos, construiu somente 8.700 habitações;
- Para manter a situação equilibrada, precisaríamos de construir cerca de 45.000 casas todos os anos, e neste momento estamos muito longe desse objetivo.
- Os Censos de 2021 mostram que não só não se construiu, como também se não reabilitou.
A agilidade nos processos de licenciamento e uma redução da burocracia são vistos como fatores cruciais para aumentar a oferta habitacional em Portugal. Vários especialistas, incluindo Paulo Portas e Manuel Reis Campos, enfatizaram esta necessidade.
É igualmente urgente criar medidas de longo prazo no setor imobiliário, algo que deveria envolver um compromisso claro entre diferentes entidades, incluindo o Estado, autarquias, investidores e promotores imobiliários.
Outras ideias a retirar da Convenção APEMIP Imocionate
- Além de um aumento no volume de vendas de casas usadas, mais de 70% dos portugueses ainda prefere a casa própria;
- O diferencial entre o salário médio líquido e o salário mínimo continua a ser um problema que afeta a capacidade de compra das famílias;
- A tecnologia, incluindo a aplicação da IA, está a abrir novas oportunidades no setor aliado à mediação imobiliária.
- A conversão de solos rústicos em urbanos é uma solução que precisa de ser mais explorada para facilitar a oferta de terrenos.