O mercado imobiliário europeu está a sair da sombra e a regressar ao centro das atenções. Depois de anos a sofrer com taxas de juro elevadas e instabilidade, o setor prepara-se para um novo ciclo de crescimento — com destaque para os setores logístico e residencial, e para zonas urbanas em renovação.
Segundo Giambattista Chiarelli, Diretor Institucional da Pictet Asset Management, este é o momento certo para investir com visão de longo prazo, com foco em ativos com potencial de reconversão e valorização. “A chave será uma gestão ativa e seletiva. Nem todos os imóveis vão seguir a mesma regra, mas os de maior qualidade e localização estratégica vão destacar-se”, afirma o especialista.
Europa baixa juros, mas a construção não acompanha
Nos últimos anos, as taxas de juro elevadas travaram o dinamismo do mercado imobiliário global. Mas, em 2025, a maré começou a mudar na Europa: o Banco Central Europeu iniciou cortes para impulsionar a economia. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos mantêm os juros altos, protegidos por uma economia mais estável. As previsões apontam para uma taxa americana acima dos 4%, enquanto a europeia deverá recuar para menos de 2%.
Contudo, o alívio nas taxas não é suficiente para resolver um dos principais bloqueios do mercado europeu: a escassez de nova construção. Os preços dos arrendamentos continuam a subir não apenas pela procura, mas sobretudo pela falta crónica de oferta.
As leis de urbanismo rígidas, falta de mão de obra na construção civil e dificuldades de financiamento impedem que se construam as casas que o mercado precisa. O resultado? Arrendamentos em alta, mesmo com o crescimento económico a ritmo moderado.
Já nos Estados Unidos, o cenário inverte-se. O mercado sofre não por falta de imóveis, mas por excesso. Em cidades como Nova Iorque, a quantidade edifícios de escritórios desocupados é notória, travando o crescimento dos preços até em setores tradicionalmente mais fortes, como o logístico e o residencial.
O que está a impulsionar o mercado imobiliário europeu?
O mercado imobiliário europeu está a ganhar novo fôlego e há dois motores principais a impulsionar essa recuperação como:
- A taxa de capitalização: indica o rendimento de um imóvel em relação ao seu preço.
- O aumento do arrendamento: as projeções apontam para um crescimento de 20% nos próximos cinco anos, impulsionado pela escassez de novas construções e pela forte procura em centros urbanos.
O cenário é especialmente promissor para imóveis de qualidade em localizações estratégicas. De acordo com as previsões da Pictet Asset Management, os retornos médios anuais poderão atingir 9,2% entre 2025 e 2029.
França, o Benelux e Itália — sobretudo no segmento da logística — destacam-se como alguns dos mercados com maior potencial de valorização. Para quem procura oportunidades sólidas, com retorno ajustado ao risco, o momento de investir poderá ser agora.
Imobiliário europeu acelera em 2025: escritórios, retalho e logística
O mercado imobiliário europeu arrancou 2025 em força. Só no primeiro trimestre, os investimentos cresceram 28%, ultrapassando a marca dos 50 mil milhões de euros — com França, Irlanda e Portugal a liderar esta nova vaga de crescimento.
- Escritórios: depois de um período de incerteza, os espaços de trabalho estão a recuperar protagonismo. Cidades como Madrid, Londres, Bruxelas e Barcelona registam já uma subida acentuada das rendas, impulsionada pelo regresso parcial ao trabalho presencial e pela procura de edifícios modernos e sustentáveis.
- Retalho: os retail parks de média dimensão estão a viver uma nova juventude. A recuperação é visível, sobretudo nos segmentos da moda, alimentação e bens de consumo pessoal, com operadores a adaptarem-se a um consumidor mais exigente e omnicanal.
- Logística: continua a ser o motor mais estável do setor. Após um ano sólido em 2024, o segmento prepara-se para mais uma fase de expansão em 2025, suportada pela demanda crescente do e-commerce e pela reorganização das cadeias de abastecimento.
Oportunidades no 'off-market' europeu
Ao contrário do que acontece nos EUA, onde os grandes fundos institucionais controlam o setor, muitos imóveis europeus ainda pertencem a proprietários privados. Este cenário abre espaço para negócios 'off-market', menos visíveis e, por isso, mais rentáveis e menos concorridos.
Cidades como Canary WharfBB, em Londres ou La Défense, em Paris enfrentam algumas dificuldades pontuais, mas são exceções numa paisagem europeia marcada por resiliência e atratividade.
Nos EUA, os olhos estão voltados para oportunidades em ativos problemáticos, como prédios em dificuldades financeiras. Já na Europa, o destaque vai para imóveis de qualidade em zonas com forte procura e valorização garantida.
O Reino Unido surge como um ponto de equilíbrio entre os dois mundos, no qual oferece retorno potencial para quem aceita algum risco, mas sem os sobressaltos do mercado norte-americano.
“Cidades de 15 Minutos”: o futuro da vida na Europa
Um novo conceito urbano está a transformar o modo como os europeus vivem, trabalham e se deslocam: as “cidades de 15 minutos”. A ideia é simples e poderosa — que tudo o que uma pessoa precisa no dia a dia, desde escolas e supermercados a escritórios e espaços verdes, esteja a uma curta caminhada ou passeio de bicicleta.
Cidades como Milão, Copenhaga, Paris e Barcelona já estão a apostar neste modelo, que tem vindo a conquistar residentes e investidores. O resultado? Uma melhoria clara na qualidade de vida e uma valorização sustentada dos imóveis residenciais nestas zonas.
Com o crescimento do teletrabalho e as dificuldades em construir novas habitações, a reabilitação de edifícios antigos para uso habitacional ou misto está a ganhar força. Este reaproveitamento urbano responde à escassez de habitação e atrai famílias e profissionais dispostos a pagar mais por viver em bairros mais sustentáveis, acessíveis e bem planeados.
Para os investidores, trata-se de uma oportunidade rara. Apostar em zonas em expansão com procura crescente, onde o valor imobiliário se mantém estável e com potencial de crescimento a longo prazo.