A China está a enfrentar uma crise no setor imobiliário, um dos pilares da sua economia, e agora recorre a um fundo público de habitação que promete ser uma alternativa aos empréstimos bancários tradicionais. Com um valor de 10,9 biliões de yuan (cerca de 1,3 biliões de euros), este fundo surge como uma solução viável para apoiar aqueles que buscam a casa própria, num contexto onde os bancos estão cada vez mais cautelosos.

Este programa de poupança, implementado há três décadas, permite que trabalhadores e empregadores façam contribuições mensais, resultando em hipotecas com taxas mais baixas em comparação com os empréstimos convencionais. Tal mudança é crucial, especialmente considerando que, em 2023, o fundo superou os bancos na concessão de empréstimos, alcançando 8,1 biliões de yuan em hipotecas ativas.

De acordo com Chen Wenjing, diretora de investigação na China Index Holdings, "é uma das principais medidas para apoiar o mercado imobiliário." Este contexto não poderia ser mais pertinente, uma vez que o setor continua a sentir-se pressionado. Muitos governos locais têm utilizado este mecanismo estatal para aliviar a carga dos empréstimos, refletindo a crescente relevância do fundo num cenário de dificuldades financeiras.

Os desafios enfrentados pelas promotoras imobiliárias são evidentes. Estima-se que as 100 maiores empresas do setor registam uma queda nas vendas de pelo menos 10% até 2025, ou seja, cerca de 3,4 biliões de yuan. A Country Garden, uma das promotoras de destaque, viu suas vendas descerem 28%, mostrando a preocupação dos consumidores com a sustentabilidade do setor.

No passado, o fundo era visto como uma opção de financiamento de baixo uso, devido a limitações que restringiam tanto o valor do crédito quanto a utilização desses fundos para o pagamento de entradas na compra de novos imóveis. Contudo, desde 2023, várias cidades, incluindo Shenzhen, relaxaram essas restrições, permitindo um maior acesso ao crédito. Isto permitiu um aumento significativo na utilização do fundo, que já financia 33% das hipotecas em Pequim, um aumento considerável face aos 29,4% de 2020.

Recentemente, o banco central da China também tomou medidas para melhorar a situação, reduzindo as taxas de juro dos créditos concedidos através do fundo, tornando-os 0,9% mais baratos do que os dos bancos. Apesar dessa redução, analistas temem que a poupança de cerca de 3% não seja suficiente para provocar um aumento significativo nas vendas de imóveis.

Com 180 milhões de trabalhadores e empregadores a contribuir regularmente para este fundo, a sua liquidez robusta coloca-o numa posição privilegiada para agir como um amortecedor na crise atual, especialmente quando comparado aos bancos, que enfrentam margens de lucro em declínio e um aumento de créditos problemáticos.

Em suma, o futuro do setor imobiliário chinês ainda é incerto, mas o fortalecimento do fundo público de habitação pode ser um passo decisivo para estabilizar um mercado em crise. A capacidade dos cidadãos de adquirirem casa própria pode depender deste mecanismo inovador, ao mesmo tempo que se busca resolver um dos maiores desafios económicos do país nos dias de hoje.