Em 2024, o panorama do trabalho em Portugal sofreu alterações significativas, com especial destaque para o teletrabalho. Um estudo elaborado por Bruno P. Carvalho, João Fanha, Miguel Fonseca e Susana Peralta revela que o teletrabalho se tornou dez vezes mais comum entre os trabalhadores com ensino superior em comparação com aqueles que possuem apenas o ensino básico.
Este fenómeno é uma consequência direta da evolução do mercado de trabalho e das necessidades que surgiram após os desafios enfrentados durante a pandemia. O teletrabalho, que já era uma tendência crescente, ganhou força e agora é uma norma para muitos profissionais qualificados.
Um dos pontos mais intrigantes deste estudo é a relação entre o teletrabalho e os níveis salariais. O trabalho remoto é mais frequente entre aqueles que recebem salários mais elevados, o que levanta questões sobre as disparidades existentes no mercado laboral. O relatório indica que o teletrabalho alcança uma preponderância notável entre os trabalhadores que estão dedicados a mais de 35 horas por semana (24,9%) e, curiosamente, entre os residentes sem nacionalidade portuguesa, particularmente aqueles de origem em outros países europeus (37,9%).
No que diz respeito ao nível de educação, a análise revela que os trabalhadores com ensino superior são aqueles que mais frequentemente fazem uso do teletrabalho, com uma taxa de 47,4%. Este grupo etário também inclui jovens entre os 25 e os 34 anos, que apresentam uma percentagem de 25,7% a trabalhar remotamente.
No entanto, não podemos ignorar o outro lado da moeda. O estudo aponta para uma clara exclusão de certos grupos do trabalho remoto. Os residentes estrangeiros provenientes de fora da Europa apenas reportam uma taxa de 20% de trabalho remoto, enquanto que trabalhadores com no máximo o ensino básico apenas chegam a 4,7%. Da mesma forma, aqueles que recebem salários/hora mais baixos, com uma taxa de apenas 7,1%, estão menos propensos a desfrutar das vantagens do teletrabalho.
Esses dados expõem uma realidade que precisa ser abordada: a acessibilidade ao teletrabalho ainda apresenta lacunas. É fundamental que as empresas e o governo português encontrem formas de garantir que todos os trabalhadores possam beneficiar das condições do trabalho remoto, não apenas os que já estão mais capacitados ou que auferem salários elevados.
Além disso, as empresas devem considerar a elaboração de políticas de teletrabalho que promovam a inclusão e a diversidade, abordando a realidade de diferentes grupos. Os tempos estão a mudar e a forma como trabalhamos também deve evoluir de maneira a ser mais equitativa e justa para todos.
Por fim, a compreensão dos dados apresentados no estudo “Portugal, Balanço Social 2024” oferece uma visão necessária sobre a evolução do trabalho em Portugal e os desafios que permanecem. É crucial que os stakeholders, desde o governo até as empresas e os próprios trabalhadores, unam esforços para garantir que o teletrabalho continue a ser uma oportunidade para todos e não apenas para um setor privilegiado da sociedade.