Hoje, o ambiente económico está mais favorável à compra de casa em Portugal com recurso a crédito habitação. As taxas de juro continuam a descer e há novos apoios para os jovens adquirirem a sua primeira casa, como a isenção de IMT e a garantia pública. Mas isso não significa que as famílias fiquem a pagar prestações da casa mais baixas. Aliás, o que se está a assistir no início de 2025 é que as famílias estão a pedir empréstimos de habitação por valores mais altos, agravando assim o grau de endividamento bancário de particulares para esta finalidade no último ano.

A descida dos juros ao longo dos últimos meses tem estimulado a venda de casas no nosso país, bem como a contratação de crédito habitação. Mas também criou maior margem para as famílias ficarem mais endividadas. Os dados do mais recente relatório trimestral revelam que os agregados pediram, em média, 193.676 euros por cada empréstimo da casa no início de 2025, mais 34% do que no arranque de 2024. A percentagem média de financiamento pretendida foi de 86%, aumentando 3 pontos percentuais num ano.

Um cenário semelhante é visível nos empréstimos da casa efetivamente formalizados: no primeiro trimestre de 2025, as famílias contrataram créditos para a compra de habitação por um valor 24% mais elevado (201.348 euros, em média) e também pediram uma maior fatia de financiamento à banca. A grande maioria dos contratos de crédito (cerca de 59%) foi negociada no patamar mais elevado de empréstimos (80-90%), uma percentagem que subiu 1,9 p.p. neste período.

Mas porque é que isto acontece? Por um lado, a descida das taxas Euribor no último ano - de cerca de 3,8% em março de 2024 para 2,4% em março de 2025 - e a queda das taxas mistas ajudaram a baixar os custos dos créditos. E, por outro, os jovens até aos 35 anos passaram a poder beneficiar da isenção de IMT e Imposto de Selo, assim como da garantia pública que possibilita financiamentos de 100% nos empréstimos habitação. Todos estes fatores acabaram por dar mais margem financeira às famílias para pedir créditos da casa por valores mais elevados, agravando a sua taxa de esforço com a habitação, por via de um maior endividamento bancário.

Mais um fator que está por detrás desta tendência identificada no mercado hipotecário português é que as famílias estão a procurar casas à venda 13% mais caras do que há um ano. E, quem efetivamente avançou com escrituras no início de 2025, comprou casas por um valor 14% mais elevado.

Afinal, a queda dos juros e os novos apoios para os jovens acabaram por acentuar o desequilíbrio entre a procura e oferta de habitação no país, acelerando o ritmo de crescimento dos preços das casas em Portugal. A subida de rendimentos dos agregados familiares não acompanhou esta evolução, caindo no último ano cerca de 7% no caso dos proponentes.

Com estes novos incentivos à compra de casa, as famílias com salários baixos mostraram maior interesse em pedir créditos habitação, representando 46% do total de pedidos que chegaram aos intermediários de crédito no início de 2025. Contudo, uma pequena parte destas famílias acabou mesmo por contratar empréstimos habitação e fez-no com uma taxa de esforço mais elevada.

Notavelmente, a grande fatia dos empréstimos da casa contratados no início deste ano foi concedida a agregados familiares com rendimentos entre 2.000 e 4.000 euros mensais, enquanto as familias com rendimentos entre 4.000 e 6.000 euros representaram quase um quarto dos contratos selados. Apesar da subida generalizada dos preços das casas, a percentagem de jovens compradores aumentou.

Percebe-se que os créditos habitacionais com taxas mistas continuam a ganhar terreno em relação aos com taxa variável, representando 83% do total dos contratos. Esta tendência pode ser explicada pelo facto de haver um vasto leque de ofertas de créditos habitação a taxas mistas.