A Revolução Verde no Mercado Imobiliário de Luxo
Durante décadas, o mercado imobiliário de luxo esteve associado à opulência, localização privilegiada, design sofisticado e acabamentos de excelência. No entanto, um novo fator tem vindo a impor-se de forma decisiva neste segmento: a sustentabilidade. Já não se trata apenas de uma tendência, mas de um verdadeiro critério de valor ao qual os investidores estão cada vez mais atentos.
A sustentabilidade deixou de ser um mero diferencial para tornar-se um requisito essencial em projetos residenciais de luxo. Atualmente, é esperado que uma moradia de luxo ou um apartamento premium apresente certificações ambientais, soluções de eficiência energética e materiais de construção ecológicos. E não se trata apenas de poupança ou de imagem: há uma mudança cultural em curso.
A geração mais jovem de compradores de imóveis — e mesmo muitos investidores tradicionais — já não vê sentido em adquirir propriedades que não estejam alinhadas com valores de sustentabilidade e respeito pelo ambiente.
Transformação do Conceito de Luxo
Este novo paradigma está a transformar profundamente a forma como o luxo é concebido e apresentado. De norte a sul do país, multiplicam-se os exemplos de projetos imobiliários que integram práticas sustentáveis de raiz, sem abdicar do conforto ou da estética. Edifícios históricos são reabilitados com atenção ao reaproveitamento de materiais e integração com a paisagem, enquanto novos empreendimentos destacam-se por soluções inovadoras como sistemas de reaproveitamento de água, painéis solares e domótica para gestão eficiente de energia.
Uma Prioridade para Investidores Exigentes
Para Telmo Azevedo, Co-Head de Residential da JLL Portugal, a sustentabilidade não é apenas uma tendência passageira, mas sim uma “prioridade crescente no mercado premium”. Nestes segmentos, observa-se um esforço crescente para integrar certificações de eficiência energética, materiais ecológicos e soluções tecnológicas avançadas que promovem o reaproveitamento de recursos, sem que isso comprometa o conforto, a estética ou a exclusividade.
Filipe Lourenço, CEO da Private Luxury Real Estate, aponta a “chegada ao mercado de gerações mais novas que têm uma profunda preocupação com a pegada ecológica”. Para estes clientes, a sustentabilidade não é apenas um fator adicional, mas sim um critério decisivo na escolha de um imóvel de luxo. Desde os materiais utilizados na construção até ao modo como o edifício é mantido, tudo é analisado à luz da responsabilidade ambiental.
Sofisticação e Consciência Ambiental
Jorge Costa, COO da Quintela e Penalva I Knight Frank, destaca o crescente nível de informação e exigência dos clientes de alto perfil, isto é, “um cliente informado e preocupado em arranjar as soluções mais sustentáveis”. Cada vez mais, a decisão de compra está ligada à capacidade do imóvel responder a critérios de sustentabilidade, o que obriga os promotores a incorporar estas preocupações desde o desenho do projeto até à execução.
A paisagem do imobiliário de luxo em Portugal está, assim, a ser redesenhada por uma exigência que veio para ficar. O que antes era uma mais-valia tornou-se um imperativo: ser sustentável é, hoje, sinónimo de ser verdadeiramente exclusivo.
O Novo Patamar de Maturidade
Segundo Ana Jordão, Residential Business Development Director da Savills, a sustentabilidade já não é apenas valorizada — é esperada. Os compradores e investidores estão atentos a cada detalhe: certificações como LEED ou BREEAM funcionam como garantias de boas práticas e tornam-se, frequentemente, elementos decisivos num mercado cada vez mais competitivo.
Os responsáveis pela Invicta Park reforçam essa leitura com um exemplo concreto. A reabilitação do Edifício Tenente Valadim, transformado no projeto Art House Boavista, combina a preservação do património arquitetónico com soluções sustentáveis modernas, “provando que sofisticação e responsabilidade ambiental não são incompatíveis”.
Estilos de Vida Adaptados à Nova Realidade
Sara Infante, Partner & Founder da Infante & Riu, salienta que também os estilos de vida se estão a adaptar a esta nova realidade. O minimalismo, muitas vezes associado ao design contemporâneo, é encarado como uma expressão prática de uma mentalidade mais consciente. Essa mudança “obriga cada vez mais as construções de luxo a não descurarem de raiz este tipo de requisitos”, diz.
Com o crescente impacto da consciencialização da sociedade, a procura ativa por imóveis energeticamente eficientes, com materiais de baixo impacto ambiental e soluções de gestão sustentável de recursos está a aumentar. Este é um reflexo direto das novas exigências de um mercado que valoriza cada vez mais a responsabilidade ambiental sem abdicar do conforto ou do requinte.