O investimento imobiliário em Portugal está em clara rota de recuperação, depois do golpe gerado pelas altas taxas de juro. Nos primeiros três meses de 2025, foram movimentados 651 milhões de euros só em investimento imobiliário comercial, mais do dobro do registado no mesmo período do ano anterior (+151%). E foi mesmo o retalho e a hotelaria que atraíram mais capital.
Os dados constam no recente estudo "Investment Market Overview" da Savills, que indica que, a nível geográfico, foi a Região Norte – “com especial destaque para a cidade do Porto” – que liderou a captação de capital, concentrando cerca de 67% do investimento imobiliário comercial realizado neste período. Logo a seguir ficou o Algarve (16,9%) e a Área Metropolitana de Lisboa (15,5%).
Portanto, estes dados indicam que “a Região Norte está a assumir um papel cada vez mais relevante na captação de investimento nacional e internacional em Portugal”, comenta Ricardo Valente, Managing Director, Savills | Porto Division e ex-vereador na Câmara Municipal do Porto.
A maioria do capital movimentado no imobiliário comercial português foi aplicado por investidores nacionais, uma vez que representaram 77,6% do total do volume de investimento registado nos primeiros três meses do ano. Ao nível do investimento imobiliário estrangeiro destaca-se o capital proveniente do Reino Unido e da Suíça, referem em comunicado enviado às redações.
A maioria dos 651 milhões de euros investidos em imobiliário comercial em Portugal nos primeiros três meses de 2025 foi alocado ao setor do retalho, revela a Savills no mesmo estudo. Assim se distribui o capital investido por segmentos imobiliários:
- Retalho: captou 385,5 milhões de euros (cerca de 59%) do total. Os segmentos mais atrativos no país continuam a ser os centros comerciais, retail parks e os supermercados.
- Hospitality: atraiu 155,7 milhões de euros (24%). A hotelaria foi o segundo segmento mais ativo, tendo sido “impulsionado pela venda de ativos de elevada qualidade, adquiridos por sociedades de investimento imobiliário e gestoras de ativos que procuram imóveis prime para integrar os seus portfólios”, explicam;
- Escritórios: foram investidos 88 milhões de euros (13%), prosseguindo uma recuperação gradual desde a pandemia que deixou a herança do teletrabalho e do trabalho híbrido;
- Logística: atraiu 24 milhões de euros (4%), sendo sustentado por elevado apetite dos investidores, sobretudo por oportunidades de desenvolvimento.
"Este primeiro trimestre de 2025 revelou sinais muito positivos para o mercado de investimento imobiliário comercial em Portugal, com um crescimento assinalável face ao período homólogo”, comenta Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal, acreditando que, “apesar do atual contexto internacional marcado pela incerteza, 2025 poderá ser um ano particularmente dinâmico, com volumes de investimento expressivos”. Até porque, na sua visão, “a economia portuguesa está bem posicionada para manter a sua trajetória de crescimento, sustentada por uma procura interna robusta, investimento consistente e um alinhamento positivo com as tendências económicas da zona euro.”
Um dos setores que deverá continuar a brilhar será a hotelaria. “O setor de hospitality continuará a desempenhar um papel de relevo, beneficiando das condições únicas que o país oferece aos visitantes”, refere Paulo Silva. Portanto, as previsões da Savills é que a hotelaria deverá continuar a ser um dos principais motores do mercado de investimento comercial nos próximos anos, uma tendência sustentada por novos projetos em Lisboa e no Porto, bem como por uma crescente aposta na requalificação e reposicionamento de imóveis existentes.
Por outro lado, o retalho – que foi o setor que atraiu mais investimento no arranque do ano – “tem sido fortemente impactado pela incerteza gerada pela guerra comercial entre os EUA e a China e pela aplicação de novas tarifas aduaneiras”, referem em comunicado. “Esta conjuntura tem incentivado uma postura de cautela por parte dos consumidores e um posicionamento de 'wait and see' por parte de investidores e operadores com intenções de expansão”, concluem.
Ainda assim, “o dinamismo que temos vindo a assistir em segmentos como os de escritórios e de industrial e logística vai certamente manter-se ao longo de 2025, pois existe um número crescente de empresas que pretendem instalar-se ou expandir as operações e consequentemente as suas instalações no Norte do país”, refere Ricardo Valente, Managing Director, Savills | Porto Division, destacando a mão de obra qualificada, a qualidade das infraestruturas e a proximidade a rotas marítimas e terrestres da região.
Portanto, antecipa-se que o investimento em escritórios continue a sua rota de recuperação ao longo de 2025, até porque o mercado ocupacional tem tido bom desempenho dando maior confiança aos investidores. E tem-se assistido ainda a uma “interessante dinâmica” no mercado da logística, o que “pode apontar a um dos melhores anos de investimento no segmento”, refere ainda a consultora imobiliária.