Portugal enfrenta uma notória crise na habitação, exacerbada pela acentuada falta de oferta. A solução pode estar numa abordagem inovadora: a construção modular. Este modelo promete uma experiência de construção mais rápida, eficiente e, talvez mais importante, uma resposta viável para a crescente demanda por habitação.
Manuel Reis Campos, figura proeminente na Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e na Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), salienta que a construção de habitações não tem acompanhado o crescimento demográfico, uma falha que remonta às últimas décadas. Segundo ele, a construção modular é uma estratégia necessária para contrariar esta tendência.
Em Portugal, a pré-fabricação está a crescer, embora lentamente, e Samuel Gonçalves, arquiteto e responsável pelo estúdio SUMMARY, confirma a existência de um "novo fôlego". Empresas anteriormente focadas na construção tradicional exploram agora o potencial da inovação, procurando adaptar-se e investir na criação de novos sistemas construtivos.
O setor enfrenta, contudo, desafios importantes, como o investimento em softwares, hardware e formação profissional. Além disso, há uma necessidade imperativa de modernizar regulamentações para que possam acomodar e favorecer este novo paradigma construtivo.
Um obstáculo notável à aceitação da construção modular é a persistente desconfiança pública e profissional. Este preconceito não é novo, mas lentamente, graças à melhoria nas tecnologias e a demonstrações de sucesso pelo mundo, começa a desvanecer-se. Samuel lembra que, em nações como a Suécia e os Países Baixos, a construção modular é sinônimo de eficiência e qualidade.
Simi Launay da Litehaus pontua que, apesar das vantagens da modularidade, como a redução de desperdícios e a eficácia temporal, ainda existe uma aura de desconfiança quanto à durabilidade e qualidade visual destas construções. Contudo, assegura que a garantia de qualidade é, de fato, uma realidade atestada pela fabricação precisionista e controlada destes ambientes.
Ambos especialistas realçam que a verdadeira revolução virá quando for possível massificar a produção de habitações modulares, algo que só será possível com investimentos ávidos em inovação tecnológicas e formação.
A necessidade de uma mudança na percepção pública sobre a qualidade e os benefícios da construção modular nunca foi tão crítica. À medida que mais projetos se tornam visíveis e os benefícios se tornam inequívocos, espera-se que a construção modular se torne uma peça central no puzzle da crise habitacional portuguesa.