Desafios e Estratégias para o Mercado Imobiliário em 2024: Adaptar-se e Inovar na Era da Inteligência Artificial

Depois de uma pandemia que veio baralhar as regras do jogo e obrigar o mercado a reinventar-se, o imobiliário voltou a enfrentar desafios significativos em 2023, à boleia da inflação elevada e aumento das taxas de juro. Além disso, as tensões geopolíticas globais contribuíram para um sentimento de incerteza, instabilidade económica e dificuldades acrescidas. O futuro parece mais promissor, mas 2024 ainda será de reajustamentos e estabilização. Em paralelo, há um novo contexto marcado pela chegada em força da inteligência artificial e de novas dinâmicas políticas, demográficas e sociais.

Foco para 2024: Antecipar, Adaptar, Gerir

Para Massimo Forte, consultor, coach, e formador especializado no setor, é importante olhar para o imobiliário como um mercado imperfeito. "A sua imperfeição faz com que seja um mercado lento e feito de ciclos, onde a procura e a oferta andam geralmente a ritmos assíncronos. Por exemplo, estamos num ciclo onde a procura é mais rápida do que a oferta, oferta essa que se caracteriza por ser lenta e pouco elástica o que provoca escassez, oscilações no preço, tempos de absorção e leads", explica. Um agente imobiliário deve jogar sempre por antecipação e para isso a capacidade de análise e interpretação de dados do seu mercado local (para além dos dados nacionais) será fundamental e um fator crítico para o sucesso.

Marketing Imobiliário: Diferenciar a Marca num Mercado Competitivo

João Pereira Alexandre, managing partner na Cork Brand Portugal, especialista em marketing imobiliário, considera que "é preciso retirar à atividade imobiliária um rótulo que lhe foi colado de ‘atividade de fim de linha’ ou de pessoas menos qualificadas". O agente imobiliário tem de ser visto como um profissional especializado, com formação na atividade, com altos níveis de conhecimento do setor e foco. Um gestor de negócios com uma identidade e uma marca que o qualificam, salienta. O que considera fundamental é ser líder, ser único, ser transparente e ser assertivo.

Inteligência Artificial (IA) - Como Tirar Partido

Na opinião de Massimo Forte, a tendência disruptiva de 2023 e que vai continuar a evoluir durante este ano é a Inteligência Artificial (IA). "Lembro-me de em 2014 estar nos Estados Unidos e conhecer empresas proptech já com bot’s a funcionar para qualificação do cliente, marcação de visitas direcionadas para determinados imóveis, tudo sem intervenção do agente imobiliário, e a qualquer altura do dia. A omnipresença e disponibilidade para interagir de forma relevante, é tendência a explorar sem medo, pois o que o cliente quer é mesmo ter o máximo de informação de forma cada vez mais transparente, mas isso não quer dizer que ele decida sem o apoio humano", explica. O grande desafio, garante, será a sua "adaptabilidade dentro do sistema operacional de cada agente ou agência, e claro, a aceitação do agente de que a IA vem ajudar e não lhe tirar negócio, mas também o contrário, ou seja, que ela sozinha não resolve, ou seja, não vende". O profissional que consegue entender este equilíbrio pode tirar grande partido tendo a IA como fator competitivo e qualitativo de diferenciação para a sua atividade.

Estratégias de Comunicação e Redes Sociais: Como Utilizar o Conteúdo Visual para Valorizar os Imóveis

Massimo Forte não tem dúvidas que muitos agentes veem as redes sociais como um "mal necessário", no sentido que reconhecem que podem ser excelentes multiplicadores de presença e interação quando bem utilizadas, mas que podem servir também para fazer proliferar o contrário quando a utilização não é adequada. Por isso mesmo, o especialista defende que "a autenticidade e relevância do conteúdo em relação a target é tudo". Para o formador, é preciso ir além do óbvio, "contar uma história que se foque em emoções, sensações e benefícios para características do imóvel que está a ser promovido é uma arte que nem todos sabem adequar caso a caso".

Um Negócio (Ainda) de Pessoas para Pessoas?

O imobiliário continua a ser um negócio de pessoas para pessoas, segundo os especialistas. E numa altura em que a tecnologia avança rapidamente, o "lado humano" pode e deve destacar-se. Massimo Forte acredita que a tecnologia "vai substituir o agente imobiliário pouco competente, o chamado ‘abre portas’, pois para isso não será necessário perceber muito de mercado, preços, financiamento, da parte jurídica/ética, de negociação e especialmente de necessidades e desejos das pessoas". Mas não tem dúvidas de que o "aconselhamento para a decisão certa é feito de forma individual para cada pessoa, e forma como é feito, será com certeza muito mais bem aceite se for humana, as pessoas vão continuar a querer fazer negócios com pessoas com quem se identificam".

Essencialmente é preciso ser ético, algo que ainda e infelizmente falha muito neste mercado que se foca muito no sonho do dinheiro e pouco no sonho das pessoas, alguém conscientemente ético e focado em ajudar pessoas, vai perdurar no tempo”, conclui João Pereira Alexandre sobre a importância de continuar a destacar a proximidade, credibilidade e emoção nos negócios. “Diria que são estes os valores que devem assegurar o lado humano da relação consultor/cliente. As tecnologias são instrumentos e apenas isso. Um sorriso, um aperto de mãos, um gesto de compreensão, vão sempre fazer a diferença".