A fábrica de mobiliário Kiune, uma das referências de Torres Vedras, no distrito de Lisboa, viu o seu triste destino selado com a declaração de insolvência e o encerramento das suas portas em fevereiro deste ano. O mais recente leilão resultou na venda da empresa por 1,6 milhões de euros, de acordo com o administrador de insolvência, Orlando Carvalho.

As instalações e os equipamentos foram adquiridos pela empresa Nicolau & Rosa, que pertence a um setor de atividade diferente. Essa venda permite agora que se comece a trabalhar no pagamento das dívidas aos trabalhadores e também à maioria do credor hipotecário, um alívio em meio à tempestade financeira que assolou a Kiune.

A dívida total da empresa aos trabalhadores atinge 100 mil euros, que inclui indemnizações e subsídios de férias. Para justificar o encerramento, o administrador afirmou que a empresa deixou de ser viável devido ao cancelamento de uma encomenda substancial de 1.500 cozinhas, que foi direcionada ao mercado italiano, em parte devido ao impacto do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, bem como ao aumento da inflação e das taxas de juro.

A Kiune, anteriormente conhecida como Cozimafra Prestige Lda, fundou-se em 2016 e dedicou-se à produção de diversos tipos de mobiliário, incluindo cozinhas, lavandarias, quartos, salas e casas de banho. Apesar de um investimento considerável de 2,5 milhões de euros em maquinaria e uma nova fábrica para aumentar a capacidade de produção, o futuro da empresa foi logo comprometido.

Em 2024, a empresa lançou um Plano Especial de Revitalização (PER) que não obteve aprovação e, assim, o processo conduziu inevitavelmente à insolvência. O dorido desfecho foi que 37 trabalhadores acabaram por perder os seus empregos, inserindo-se numa lista de mais de 50 credores, onde se destaca a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alenquer como o maior credor, com uma dívida de 1,3 milhões de euros.

O Marcio da Indústria de Mobiliário: Desafios e Dificuldades

A falência da Kiune vem interligar-se com a narrativa maior da indústria de mobiliário em Portugal e os desafios que as empresas enfrentam neste setor. O aumento do custo das matérias-primas, as dificuldades logísticas e a concorrência global, são apenas alguns dos fatores que têm impactado a sustentabilidade das empresas locais.

Muitos empresários no setor precisam repensar suas estratégias e encontrar novas formas de se diferenciar no mercado, seja através de inovações, seja investindo em tecnologias que tornem o processo produtivo mais eficiente.

Quando se analisa o caso da Kiune, fica evidente que o tempo é um fator crucial. A adaptação a novas realidades, bem como a habilidade de se acautelar contra crises externas, pode fazer a diferença entre o sucesso e o encerramento das operações.

As lições a aprender são muitas. É importante que outras empresas do setor se inspirem na história da Kiune para desenvolver estratégias resilientes e que assegurem a sua continuidade num mercado cada vez mais competitivo.

Em suma, a história da Kiune não é apenas uma narrativa de falência, mas um reflexo do estado da indústria de mobiliário em Portugal. E, enquanto o leilão marca um novo começo para as suas instalações, para muitos, representa o fim de uma era que poderá não voltar a ser como a conhecemos.