Perante a escassez de habitação nova a preços acessíveis, cada vez mais portugueses estão a optar por reabilitar em vez de comprar casa nova. A tendência, que se tem vindo a afirmar nos últimos anos, ganhou força com a valorização do mercado imobiliário, as exigências de eficiência energética e as transformações no modo de viver — acentuadas pela pandemia. Este movimento é estrutural e coloca o setor das remodelações no centro das soluções para a habitação em Portugal. Por isso, acredito que o potencial de crescimento continuará elevado nos próximos anos.
A reabilitação urbana tem um peso cada vez maior neste contexto, representando uma fatia significativa das obras licenciadas em Portugal. Vemos bairros inteiros a revitalizarem-se, sobretudo nos centros urbanos, e um claro apetite por intervenções que melhorem o conforto, a eficiência e o valor dos imóveis.
Contudo, este crescimento traz também novos desafios. A construção civil enfrenta atualmente a dificuldade em recrutar mão de obra qualificada — um problema reportado por 80% das empresas — e o aumento contínuo dos custos de materiais.
Em 2025, cerca de 80% das empresas de construção continuam a reportar dificuldades na contratação de mão de obra qualificada. Quanto ao aumento dos custos de materiais, temos procurado trabalhar com fornecedores que garantam previsibilidade de preços e prazos, sempre com atenção à sustentabilidade. Em paralelo, estamos a rever soluções construtivas que permitam maior eficiência sem comprometer a qualidade.
Com mais de 25 anos de experiência em franchising e uma carreira construída no setor da restauração em marcas como McDonald’s, Vasco Magalhães assumiu funções no decorrer do mês de maio e traz consigo uma visão clara: reforçar a qualidade da operação no terreno, melhorar a experiência do cliente e dar mais apoio aos franchisados.
Do mundo da restauração ao setor das obras e remodelações: o que o motivou a aceitar este desafio numa área aparentemente tão distinta?
Embora à primeira vista pareçam setores distintos, ambos partilham um elemento central: a experiência do cliente. Na restauração, aprendi a importância de ouvir o cliente, compreender as suas necessidades e superar expectativas. Essas competências são cruciais também no setor das obras, onde o impacto da experiência é ainda mais marcante, porque lidamos com o espaço pessoal das pessoas — as suas casas. A oportunidade de aplicar esta visão centrada no cliente num setor em crescimento e com tanto potencial foi um fator decisivo para aceitar este desafio.
O que o atraiu neste setor e na marca?
A MELOM e o Querido Mudei a Casa Obras destacam-se num setor tradicionalmente fragmentado, oferecendo uma proposta de valor clara: profissionalismo, confiança e uma experiência de cliente diferenciada. O setor da construção e remodelação em Portugal tem mostrado sinais de crescimento sustentado. Em 2024, foram licenciados 25,4 mil edifícios, representando um aumento de 8,2% face a 2023. Além disso, foram licenciados 34.117 novos fogos em construções novas, um crescimento de 4,9% em relação ao ano anterior.
O setor da construção e reabilitação tem especificidades próprias. Que desafios antecipa nesta fase de transição?
Um dos maiores desafios é a gestão de expectativas — tanto do cliente como da própria rede. A construção é uma atividade altamente técnica, dependente de múltiplos fatores: licenças, equipas, materiais, meteorologia. O grande desafio — e também a grande oportunidade — está em profissionalizar cada vez mais o processo: planear melhor, comunicar com clareza e entregar com qualidade.
Que prioridades estabeleceu enquanto Diretor-Geral? Há mudanças já em curso ou a curto prazo?
As prioridades estão bem definidas: reforçar a qualidade da operação no terreno, melhorar a experiência do cliente e dar mais apoio aos nossos franchisados. Estamos a trabalhar na normalização de processos e na definição de standards de acompanhamento de obra.
O setor da reabilitação urbana ganhou enorme relevância nos últimos anos. Como olha para o potencial de crescimento do mercado de obras residenciais em Portugal?
O mercado das obras residenciais tem vindo a ganhar tração de forma consistente. A valorização dos imóveis, as exigências de eficiência energética e a transformação dos hábitos pós-pandemia levaram muitas famílias a investir na melhoria do seu espaço.
A reabilitação urbana representa uma fatia significativa das obras licenciadas em Portugal. Este movimento é estrutural e coloca o setor das remodelações no centro das soluções para a habitação em Portugal. Por isso, acredito que o potencial de crescimento continuará elevado nos próximos anos.
A proposta de valor da rede está alinhada com as exigências do cliente contemporâneo?
A exigência dos clientes está a aumentar. Hoje já não basta fazer uma boa obra; é fundamental comunicar bem, cumprir prazos e manter uma relação de total transparência com o cliente. Estamos focados em reforçar todos os pontos de contacto com o cliente ao longo da obra, desde o primeiro pedido de orçamento até à entrega final.
A rede de franchisados é uma peça central no modelo da MELOM/QMACO. Que tipo de relação quer estabelecer com os parceiros?
A força da nossa rede está nas pessoas que a compõem. Quero estabelecer com os nossos franchisados uma relação de parceria verdadeira, baseada na confiança, na escuta ativa e num objetivo comum: entregar qualidade ao cliente final.
Em termos de obras e reabilitações, quais são as tendências do momento?
As tendências que se afirmam com clareza são a sustentabilidade, funcionalidade e personalização. A adoção de soluções energeticamente eficientes e materiais recicláveis, a necessidade de adaptar os espaços às novas formas de viver, e a valorização do detalhe são fundamentais. Estamos atentos a estas mudanças e empenhados em garantir que a nossa rede está preparada para responder a estas dinâmicas de forma eficaz.